quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

o que me falta?

Não me falta nada.
Nada além de sentir aquele hálito fresco pela manhã.
Aquele abraço apertado.
O suspiro macio.
O sorriso inventado.
Sair pelo mundo afora sem pensar no que não tenho, na matéria que não é minha (nem sua, nem nossa), no lugar que não moro. Sem pensar.
Sentir que o mundo respira mais lento. Mais rápido. Que só respira. Que me inspira e acontece.
Perceber que todos os olhos me vêem mas não me enxergam e me sentir bem com toda essa autonomia e anonimato.
Saber que vivo aqui e que poucos sabem, mas que estes que sabem são suficientes para fazer de mim quem sou.
Que posso voltar pro meu mundo a qualquer momento, e que esse mundo eu encaixo com o mundo daqueles que moram em mim. Feito um quebra-cabeças.
Voar nas histórias, nas memórias e (in)sanidades de um todo qualquer, me afastando desse todo mal-me-quer e pouco me importar ao ser chamada de autista, anti-social ou aleatória.
Nada além de fantasiar sempre. Sempre mesmo. E também sempre sabendo que há muita coisa real pra ser descoberta e que merece tanto suor (e imaginação) quanto as fabulosas e mirabolantes ideias que me percorrem em minhas veias.
De saber que numa esquina qualquer eu posso encontrar um alguém-não-importa-quem-desde-que-me-faça-bem.
Nada além de viver mais uns cem (milhões de) anos pra poder descobrir um pouco (de um milésimo) do que ainda está por aí e que ainda falta ser explorado.


É, não me falta nada.


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

de retrô só meu wayfarer.

Como eu estou num baita tédio, vou seguir a dica do Vagalume e fazer uma retrospectiva do ano de 2009.

























Tenso. Não vou fazer isso não. Coisas que já passaram merecem ser ou esquecidas, ou apenas armazenadas.
Pra quem (?) estava esperançoso em saber todos os detalhes e ~fofocas~ da minha vidjénha animada -n, perdeu a viagem, porque não vai dar.
O que resta é a certeza de que muita coisa eu vou tentar esquecer (= EPIC FAIL) e outras eu vou querer lembrar diaramente só pra estar certa de que tudo aconteceu, in fact.
De que todas as novas amizades são reais e que vão seguir comigo por todos os próximos 'dois mil e bolinha'. Que todas as bad things que aconteceram não vão voltar. Podem vir outras tão ruins quanto, eu sei que virão, não sou tão pretenciosa ao ponto de achar que minha vida será bordada pelo destino com uma mão leve. Vão haver falhas, furos, recortes e retalhos. Mas eu vou ter linha o suficiente pra me costurar, sempre. O problema é a paciência pra tantas costuras.

Porque eu já tentei, naquelas férias-da-casa-da-vovó, ela no tricô e eu no ponto cruz. Saco de jó que só Peruibe salva! T'ai mais uma coisa pra eu colocar na lista: aprender a costurar -n. E saber que a paciência é uma virtude (que eu ainda não tenho, mas deixa em off.)
E que venha 2010! :D


sábado, 19 de dezembro de 2009

You walk, I run.

A fuga.

Ela que seria uma solução nos momentos difíceis, ou em situações que necessitassem unicamente da minha consciência. Momentos em que eu só precise ouvir a minha respiração, sentir o coração pulsar e ficar num silêncio gritante. Sem necessitar de outros sabores que não o de menta da pasta de dente usada pela manhã, antes dela. Sem querer sentir outro cheiro, que não o da minha própria pele. Passar horas, minutos, quem sabe apenas segundos sentindo isso, mas que eles fossem suficientes pra esclarecer tudo e me fazer definitivamente entender que preciso de mais do que de mim mesma. E depois desse surto de compreensão, a saudade passa a apertar, e vou andando lentamente de volta pro lugar onde essas necessidades egocêntricas se esvaem. Aonde eu vou encontrar os braços mais calorosos, os cheiros mais ácidos e envolventes, aquele sabor que é capaz de durar toda eternidade, sem perder seu valor e manter meus lábios quentes. Aonde tudo é baseado em vivência, e sou capaz de ver que o mundo tem mais olhos, egos e verdades do que eu possa imaginar. Mas nada que seja capaz de excluir, de vez em quando, a minha vontade imprescindível de sentir falta de tudo isso. Porque quanto mais a saudade corta, mais a gente entende que somos mais do que nós mesmos.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

falta do que fazer? oh noes.

Metas para 2010:
- comer menos;
- falar menos;
- brigar menos;
- ter menos desejos assassinos;
- estudar muito, muito mais; (tudo isso sem viver menos. será que dá?)
- ah sim, amar. menos ou mais, tanto faz;
- aprender a não me importar tanto e não dar tamanho valor àqueles que não demonstram volta;
- ser o que eu estiver afim de ser, desprezando as desaprovações e censuras. vai se foder todo mundo, engula seu "pré-não";
- postar mais no blog. nem que seja algo tão ridículo quanto listas;
- comprar um hamster chinês e estudar a reação dos meus chihuahas ao ver a bolinha de pêlo;
- descobrir tudo. qualquer coisa. o que ainda está, obviamente, coberto;
- bandear por ai. em bando. em banda. em bunda;
- ah, falando em banda, criar vergonha na cara e procurar um professor de violão e de canto senão vou acabar sendo expulsa dela;
- falar menos palavrão (sei que vou me arrepender dessa meta, que merda);
- ser feliz, ter saúde, paz, harmonia e amizades cada vez mais fortes.. . .. .. . . como se isso dependesse de mim, pfff;

e o mais importante:
- procurar um psicanalista e algo melhor pra fazer do que listar coisas (até porque o mundo vai acabar em 2012, que inútil.)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

da compaixão, só me abstraio da primeira sílaba.

bfff.

adoro meus amigos, de verdade.
mas isso não significa que eu precise deles pra tudo. e eu, realmente, quero que eles saibam disso. afinal, eu tenho as minhas próprias pernas e posso muito bem caminhar apenas com elas.
não estou desmerecendo os tantos braços, abraços, ombros e colos, claro que não. mas e quando eles não estiverem mais ai? mais aqui? pra mim?
vou ter que me escorar numa esquina qualquer do destino e aguardar até que alguém me tire da chuva e me ponha embaixo de sua marquise?
não quero precisar disso. quero tê-los sempre comigo, mas sem dependências que não as do carinho do dia-a-dia.
quero sua proteção mais sutil. um casaco no frio, um guarda-chuva, um guarda-sol, um guarda-segredos.

e que me deixem guardá-los no bolso do peito.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

e mesmo que eu não te olhe mais com meus olhos de amor
sinto a falta de tudo aquilo que é você, minha mórula de dor.

sem criatividade pra porra nenhuma

se a vida é tão curta,
melhor eu não me alongar.
termino aqui essa essa disputa
que travei com o vivenciamar.

sábado, 26 de setembro de 2009

Enumerados e enamorados.

Com o primeiro foi simples. A pouca idade não permitiu que eu dedicasse toda a minha mente à ele, que tinha que dividí-la com minha infância. Felizmente.
Nada muito fora do contexto de uma criança. Não foi o primeiro amor. Foi o primeiro amigo diferente.
Passou rápido, como aquela época das bonecas de pano, cheias de retalhos. Como estou agora, mas isso foi depois de mais alguns deles.

O segundo não foi tão diferente do primeiro, apesar de já estar maior, menos alheia às bobagens do amor.
Fez parte de momentos conturbados, mas divertidos. Mais um amigo diferente. Nada de primeiro amor ainda. Será que esse pioneiro não seguirá as coincidências da minha vida?
Mas voltando à esse segundo, foi bom. Não longo, mas bom. Não intenso, mas ainda assim, adorável.
Primeiro estímulo para meus escritos, contos, fábulas. Aquelas historinhas de príncipes em cavalos. Alados.
Foi sumindo, flutuando. Talvez voando, montado ao Alasão, em direção ao baú das memórias.
E foi.

Terceiro, esse sim. Abriu um novo livro, uma nova história. Era um momento cheio de novidades, e ele não podia faltar.
Apesar dos meus pensamentos, ele seguiu as coincidências. Ou seria o destino?
O primeiro amor, de fato, a gente nunca esquece. Por um longo tempo, me dediquei à torná-lo intenso. E foi, apesar de tudo.
Internamente, pelo menos. Nunca tive sorte com essas coisas, mas não cansava de tentar. Durou. Período imaginativo. Singelo. E inteiramente meu.
Até que, para ele, apareceu um primeiro amor, como ele havia sido pra mim. E ela o fez feliz. E ainda o faz. Que bom.
Agora ele é um amigo. Não diferente, mas único.

E, finalmente, o quarto e atual. E espero que último. Eterno.
Mas, fugindo de todas as coincidências da vida, ele seguiu um outro rumo. O de me impulsionar a expandir o interno. O de me fazer querer mostrar o que há de mais amável em mim.
Talvez não seja muito. Mas há. Sempre tem algo digno de amar na gente.
E ele me faz ficar afoita, intíma, intensa. Atraída. Atraente. Me faz ser quem eu sempre quis. Me faz bem.
Ele é a união de todos os outros. Me faz ser criança, confusa, conturbada, divertida. Me põe a fantasiar, imaginar e flutuar.
É diferente. É capaz de, num estalar de segundo, me fazer sentir toda e qualquer sensação.
A soma de tudo que eu desejei, por todo o tempo.
Muitos que sabem da nossa "história" me perguntam porque ele. E eu não sei responder.
Ele foge do estereótipo. De todo o comum que apareceu na minha vida.

Ou de quase todo o comum. Afinal, ainda há essa semelhança de nome.
Gabriel.

Mas, acredite se quiser, com ele eu não desejo encontrar mais nenhum. Nem Gabriel, nem João, nem José. Nem mais ninguém.
Pra quê mais se ele me satisfaz?
E já me é demais.
Demais.

domingo, 16 de agosto de 2009

Faz parte do meu show.

- Primeiro toque - Sensação angustiante, Coração acelerando.
Respiração lenta.
Pessoas orando.
Sistema nervoso alarmado.
Tentativas de esquecer, de não pensar. Quase conseguidas.
- Segundo toque - Em vão.
Sensação amarga, coração palpitante, respiração acelerada,
pessoas se movimentando, rapidez, sistema nervoso entrando em prantos,
tentativas de pensar, em fugir.
- Terceiro toque - Deixadas de lado, procurando uma brecha pra ir embora,
o medo toma conta, coração pulando pra fora, não respira mais, ofega,
pessoas correndo, falando, rindo, chorando,
sistema nervoso transformou-se num motor de carro de corrida,
tentativas de nada mais. Fora empurrada para o palco.
Quanta gente! Olhares expressivos, aguardando as palavras certas,
as esperadas.
Começa o show.
Sensação boa.
Coração leve. Respiração calma.
Pessoas sensatas, sorrindo. Sistema nervoso, nada nervoso.
Tentativas de surpreender o público.
Bem feitas, conseguidas.
Aplausos, gritos, risadas, alegria.
Uma festa de sonhos, de anseios e de felicidade impertinente.
Devaneios da realidade,
Fazem parte do grande show. Do show da vida, da mente, da alma. Do meu show.

domingo, 7 de junho de 2009

Trecho - Amor de Química

- Você me ama?
Meu Deus, depois de tanto tempo juntos, ainda lhe restava dúvida. Não era possível que fosse esse o motivo de sua mágoa atual. Não mesmo.
- Claro Annie. Eu seria capaz de te dar um mundo. Você é a minha vida.
Ela deixou algumas lágrimas fujonas caírem, e sorriu. O primeiro verdadeiro do dia. Como eu estava sentindo falta daquela sensação aconchegante de, realmente, tê-la ali, feliz.
- Por que isso agora? – perguntei confuso.
- E você me amaria independente de qualquer coisa? – ela enfatizou o qualquer, ignorando minha pergunta.
- Meu bem – e eu coloquei-a sobre meus joelhos como um pai faz com uma filha pequena – eu te amo. E sempre, sempre amarei. Não importa a situação.
- Qualquer coisa? – ela repetiu.
- Qualquer coisa. – afirmei.
Ela selou nossos lábios, e adormeceu ali, em meu colo. Sua cabeça em meu ombro me permitindo sentir o aroma de seus cabelos e corpo. Era um cheiro deliciosamente divertido, diferentemente do que viria pouco tempo depois.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Dor, ardor, amor.

Não vou ficar mais lamentando, desejando sua presença se não sou capaz de fazer nada pra mudar;
Não que meus sentimentos sejam inventados, nem que seja tudo uma grande farsa.
Eu realmente quero você perto, bem perto.
Mas não é com palavras que consigo te trazer.
Nunca fui do tipo emotiva, nem nada; Sempre tentei reter os sentimentos e nada me fazia explaná-los.
Mas aí vem você, me abala as estruturas e -puf- tudo que antes era facil se torna impossivel.
Meus amigos se preocupam, sentem falta do meu sorriso.
E eu sinto falta de você.
Eles me aconselham, me dizem pra esquecer... sei lá, acho que não dá.
Isso deve acontecer porque quando nós gostamos de alguém, parte da nossa mente, da nossa alma fica guardado nessa pessoa.
E não nos sentimos completos verdadeiramente sem ela.

Tem horas que eu me odeio, sabe? Me sinto incapaz de controlar, não sei bem... Confusão.
Mas eu prefiro odiar a mim do que a você. Isso soa tão ridiculo, tão idiota... mas a verdade de alguém apaixonado assume mais a imagem de um bobo da côrte do que de um rei dos amantes.
O fato é que você me fazia bem. Mas agora você não tem me feito nada, além de falta.

Só tenho um pedido, se não for muita pretensão, claro.
Não vou pedir você em casamento, não é do meu feitio. Isso é coisa de macho e agora eu tô tentando ser uma garota.
Só quero que a gente não passe pelo outro e ignore a presença, que diga um "oi" que não vai além de educação.
Quero voltar com as brincadeiras estupidas, as conversas babacas... todas aquelas coisas que a gente fazia.
E que me deixavam tão plena.

Eu quero você. Não importa como, onde nem quando. Só importa que seja você. Não vou pedir desculpas, você disse que eu não fiz nada. Então esse é meu pedido.

E, mesmo que a gente não se conheça, como você falou, eu sou capaz de gostar tanto de você.
Porque amor não é pra conhecidos, é pra nós.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Tá na hora.

Não, eu não vou falar de tempo. Dessa vez é apenas (mais) uma tentativa de expressar minha indignação, minha repulsa. Tá na hora. Hora essa que já passou por nós várias vezes e a massa não agiu. E digo a massa porque sabemos que iniciativas individuais não são dignas de serem notadas, ignorância. O tempo passa e vai levando as oportunidades de reflexão. De pararmos pra pensar no que fazer, e de fato, atuar. Esperamos pra ver na televisão, uma caixinha de cores e totalmente robôtizada e domadora, capaz de nos neocolonizar. De atingir nosso âmago, coisa que nem as ideologias mais artisticamente politizadas são capazes de fazer. Esperamos que outros pensem pra seguirmos a ''maré'' de maneira cega. Esperamos.
Enquanto isso não deixam de existir os problemas. Eles seguem aí, causando tumulto, desavenças, divergências e consequências devastadoras. Uma sociedade inteira fragmentada por falta de ações. Nos alienamos de tudo esperando que outros façam seu papel, aqueles que certa vez colocamos no trono governamental mas que nada fizeram por seus meros súditos. Abanamos seus rostos com impostos, os alimentamos com suor trabalhador, somos seus bobos da côrte. E eles reinam. Pelos cantos se reclama, se indaga, criam-se teorias, planos, mas revolucionar enfim, ah! isso não dá. Tenho que trabalhar, me falta tempo. Deixemos pros mais jovens, já fiz muito por esse mundo.
Mas também se espera que eles cresçam e se tornem capacitados.
Definitivamente o tempo vem sendo banalizado. Talvez pelo fato de se achar que uma geração é pouco pra fazer a diferença. Se pensarmos assim, quando será suficiente? Nunca começaremos a mudar, a gerar possibilidades, melhorias, certezas.
Vejo meu pai olhando pras novidades atuais (meio ambiente devastado, absurdos casos de pedofilia, presidentes negros - nem todas são novidades ruins, decerto). Ele se choca. Não o culpo por ainda viver na época da ditadura, ele não fora criado pra aceitar as mudanças, por menos radicais que fossem. O receio do novo ainda se impõe nessa sociedade. Mas eu, como membro de uma nova geração não. Tive a sorte de nascer numa (pseudo) democracia, e não vou desperdiçar a chance de transformar.
Mude com pensamentos, é uma questão interna. Depois com palavras, atingindo um pequeno raio de mentes a-lunas. E por fim atue no grande circo da vida. Cabe à nós, jovens ou velhos, fazer dela um sucesso grandioso. A hora chegou, vamos ser humanos.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Fantasia sem sentido.

Tem dias que a gente acorda meio mal. De olhar pro mundo através da janela e ver apenas uma faixa de destino embaçada e enquadrada naquele pedaço de vidro. De parar pra refletir (não no vidro, mas na mente) e tentar descobrir pra que veio. Crises de identidade e (des)crença que nos pegam de um jeito que não dá para não pensar. Hoje foi um dia desses, pelo menos pra mim. Sentei-me na cama e fiquei, por longos minutos, fitando aquele reflexo abobalhado no espelho. Era como se eu visse uma desconhecida. Aqueles traços me traziam uma remota lembrança de um passado não tão distante, não tão esquecido. Mas ainda assim eu não reconhecia aquela imagem. Não que a figura demonstrativa não gritasse que era eu, mas o que eu via naqueles olhos pseudo-meus não era o que eu imaginava passar, na realidade. Enfim, eu não sabia quem era minha real pessoa. Por tantas vezes a gente tenta enganar ao passar uma imagem fantasiosa. Tentamos sorrir quando choramos por dentro, quando nossas entranhas estão se rebelando na mais insana dor. Humanóides mentirosos, somos nós.
A chuva começou a cair, toquei uns acordes aleatórios no violão. Não sei tocar, isso é fato, mas esse não saber não é impecilho pras tentativas desastradas. Posso não saber quem sou, mas quem não sou, ah, como sei!
Não sou cantora, dançarina, escritora, cult, pop... Não que eu seja nada, mas ainda não descobri. A chuva ainda caia, e com ela os pensamentos atordoados iam se esvaindo. Chuva que vai, e cessa. Feito minha mente, curvilínea, sem padrões. De tempos em tempos, parece minha criatividade: escassa.
Feito fantasia que, no ápice do emanar, se dá por findada deixando apenas a curiosidade.
Fantasia que, como eu, não faz sentido.

Um conto a mais, gente a menos

Ao buscar imagens sobre guerras, mentalizava-me no lugar daquelas pessoas, daquela gente.
Não era uma boa sensação, pode acreditar. E só de pensar que minha avó ou a mãe dela, e tantas outras avós e bisavós, e mulheres, e crianças possam ter passado por isso quando seus homens e pais foram lutar, umas certas gotas escorrem por meu rosto.
Não era, de fato, uma boa sensação.
Eu duvidava de como o homem fora insano, insensato, louco.
Mas ao ver por seus olhos, ao vestir suas fardas, até compreendia.
Ou era ele, ou seus filhos e sua mulher, que ele dizia serem sua vida.
Concluí que a insanidade do homem era bondosa. Ele trocava sua vida única, por sua vida dividida. Sabia que ia morrer, mas deixava ao mundo outros olhos pra poderem ver.
Por isso até gosto de ser louca. E de ser gente. Até.

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Explosões. O céu brilhava feito purpurina. Não, não era baile de carnaval.
Não haviam serpentinas, confetes e sorrisos. Parecia que estes eram desviados pra qualquer lugar.
O caos reinava nos olhos dos nossos filhos, e nada podíamos fazer a não ser orar.
Mas numa situação daquelas, Deus se tornou lenda. Lagrímas que não secavam, corpos mutilados.
A dor de uma mãe que teve seu filho morto pelos homens fardados de morte. Crianças a lamentar por seu pai, seus irmãos.
Culpa da guerra.
Gente que mata gente deixa de ser gente. Gente que morre também. Vira pó. Vira dor. Vira adubo. Vira nada.
A luz que, ao mesmo tempo era próxima dos olhos, tornava-se tão distante quanto a paz.
Essa era a guerra. Aos olhos dos soberanos, uma promessa de vida nova.
Por Deus que ainda restava nos crentes, se a vida se acabava ali, como poderiam renová-la ?
E o tempo passava por nós. Calavam-se as vozes. E as esperanças idem.
Eclodia o choro dos bebês, desaninhados. Tocavam em mim partes do corpo de alheios. Ou quem sabe de meu homem.
Culpa da guerra.
Éramos cidadãos, e agora viramos fumaça. Éramos gente, e agora animais insanos.
Pareciamos canibais. Eles corriam com seus quilos de metais nas costas, com principios de sorrisos, como se gostassem de matar.
E de morrer. Elas percorriam o asfalto, ou talvez as paredes, ou a terra. Era tudo igual.
Culpa da guerra.
Milhões de falecidos. Inocentes ou não. Homens ou não. Todos embaixo do muro.
Ou pelo chão. A poeira tomou conta de tudo. Fora necessária uma multidão se perder pra vermos que éramos todos iguais.
Cinzas.
Era esse o objetivo ? Calar o homem pra saber que ele é como eu, e você ?
Não, porque guerra não tem motivo, exceto o erro da morte.
Explodiam os corpos e os sonhos. O céu brilhava feito purpurina. Feito lágrimas.
Culpa do homem.

terça-feira, 17 de março de 2009

Fatos mundanos que nos vitimizam.

Ela passeava pela casa. Sim, passeava. Era um ambiente desconhecido,
e daqui à um tempo, não existiria mais em sua vida.
Era mais ou menos dessa maneira que a garota vivia. De canto em canto, sem uma rotina, um ciclo.
Desde menina era imprevisível, e até gostava disso. Era adepta às mudanças, surpresas.
Até que entrou para a faculdade de química.
Achava que era uma profissão perfeita, já que buscava descobertas.
Conheceu novas pessoas, descobriu fórmulas, não as usava.
Namorou alunos, e até mesmo um professor.
Era inteiramente misteriosa. E avoada.
Deixou os elétrons e virou-se para os fios encontráveis na mecânica.
Decidiu contribuir para um mundo mais fácil de se controlar.
Mas parou pra pensar nos animais. Mudou-se para a biotecnologia. Perfeito! Ou não.
Direito, engenharia, história, administração, fisioterapia, jornalismo, engenharia de novo,
projetos inacabados.Sossego? Imagina! E é assim até hoje.
Mas agora ela não tem o mesmo gás dos outros tempos.
Não tem filhos. Não casou-se. Isso era muito comum.
Não tem carro, apenas uma charrete. Não tem cavalos para puxá-la.
Não tem casa, só uma barraca. Mora num pico de montanha. Numa barraca, pois é.
Não toma remédios. É doente do corpo. É doente da mente. É demente.
Isso tudo para não cair na rotina.
Ela renova sua alma. Mas ainda envelhece a sua pele.
Seu jeito criativo de reagir ao tempo é, digamos, interessante.
Facinante. Mas ela se foi. Não há parentes para velá-la.
Não há ninguém pra prosseguir com as novidades.
Não há.
Os jovens que ouviam essa história que saltava da boca da professora tomaram-na como exemplo.
Agradecem pelo cotidiano.
Os dias comuns não lhes fazem mal, nem os matam por viver de um cardápio limitado de sonhos.
Alegram-se de estarem respirando, e cuidando de seus corpos joviais.
Porém eles não sabem que sua mentalidade anda sofrendo com a ação do simples e do provável.
Mas os deixemos viver de um mundo previsível.
Eles ainda vão buscar uma charrete com cavalos imaginados que hão de guiá-los
para o cantinho da velhinha.
Aonde deixarão de ser robôs, e virarão gente.
Felizmente.

Restrito

Em sua viagem, ao Destrito Federal, foram tragados milhões de cigarretes.
Devido ao vício, era chamado de smoke machine. Mas ele nem ligava.
E perdia-se naquela fumaça. Literalmente.
Ele viajara quilômetros para apenas corresponder à uma proposta de emprego.
Apesar de seu defeito mais notável, era de grande respeito. Era um homem por inteiro.
Mas isso não compensava as horas à fio que ele mantinha aquele pedaço de papel maldito dentre os dedos.
Em frente ao computador, ele nem via os maços se esvaziarem. E teimava em dizer que só fora um.
Os filhos, a mulher, cansados do vício que os atingia também, decidiram tomar algumas atitudes.
Foi quando aniquilaram a nicotina da vida deles. Ou ao menos tentaram fazê-lo.
Ficara terminantemente proibida a entrada de qualquer pacotinho contendo um cigarro sequer.
Sem exceções. Podia ser o mais fraco existente. Desde um Free até um Hollywood.
Claro que não foi fácil, mas a cada vez que ele comprava, tantas outras eram queimados, cortados, sumidos.
Foi então que decidiu aceitar o emprego que citei no início.
Ele sentia-se enjaulado sem seu companheiro.
Mal ele sabia que este estava matando-o.
Chegando à Brasília, viu as luzes e logo lembrou de comprar seu maço.
Viu lanchonetes. Mais um pacote.
Viu passarinhos. Mais um.
Pessoas, praças, monumentos, o invísivel. Tantos mais.
Sentia falta da família, era óbvio.
Mas sabia que se voltasse, estaria restrito ao uso viciante daquele veneno.
E por lá ficou.
Perdeu o primeiro carro que o filho comprou.
A viagem à Disney da filha, quando esta fez 15 anos.
Os primeiros jogos de futebol do neto.
A família. As lembranças. O próprio ar.
Coisa do vício.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Todo o tempo do tempo.

Um minuto pra outra hora, outra hora, coberta de 6O outros minutos, que cada um contém seus outros 6O segundos, o quê resume em tantos outros 36OO segundos por hora. Não sou matemática, mas isso é tão básico quanto saber seu nome. Por isso que eu não tenho um fixo.
Posso ser Maria Elisa, Marie, Mari, Ma, M, psiu!, você, ei, nada. Que seja, isso não vai mudar a minha história. Mas voltemos para o tempo.
A cada momento, acontecem mortes, nascimentos, discussões. A cada instante, as pessoas falam, respiram, soluçam, choram, riem. Vivem.
Vez em quando eu paro pra pensar o quê Alguém estaria fazendo. E se esse Alguém precisa de mais outro Alguém. Se esses Alguém's precisam de
mim. Ou não. E talvez eu nunca vá saber, o tempo passa rápido, as coisas mudam ligeiramente, e se nesse instante eles vivem, quem sabe no outro
o quê pode acontecer? Mas voltando ao tempo, paremos pra pensar também o quê poderíamos estar fazendo nesse momento, se isso mudaria o
próximo, ou quem sabe só seja desperdício. Ah, isso é outra coisa que me vem a mente, às vezes. Disperdício de tempo, isso existe?
Tempo taí, é pra ser usado, ninguém pode chegar e falar que roubou seu tempo e só vai devolver depois de gastá-lo e a bateria pifar.
Tempo não é movido à bateria. Tempo é tempo, sei lá de quê é feito. Quero dizer, eu sei que tempo é marcado em dias, horas, e coisa e tal, mas
isso não é a sua matéria. Aliás, tempo tem matéria? É, pelo visto eu não tive tempo suficiente pra saber de quê ele é feito. Mas então me pergunto:
Se tempo não tem matéria, não podemos vê-lo, nem apalpá-lo, como pode ele nos tocar de tal maneira? Vivemos num mundo ande tudo merece mais
tempo, que o dia é pequeno. (H)Ora essa, quer dizer que devemos dar alguns hormônios pro dia? O tempo passa, não pára, nem espera ninguém.
As mulheres reclamam que estão velhas, antigas, passadas. Coisa do tempo, ele que diz. Os homens protestam que não viveram o suficiente pra ter
em mãos todas as mulheres do mundo. Parece até que existe uma ampulheta que apita quando a gente envelhece. E eu não reclamo, não protesto nem me revolto. Quando me perguntam quantos anos tenho, não sei responder. Já tive 14, mas o quê tenho pela frente, só Deus e o tempo sabem.
36OO segundos, posso usá-los como bem entender, e pra você po
de parecer só mais uma hora perdida, mais rugas, menos mulheres, mas para mim foram mais risadas, lágrimas, palavras e suspiros. Pra mim esses segundos foram de fato, momentos. Instantes a serem marcados, lembrados, e quem sabe, com o tempo, esquecidos por alto mas ainda existentes na estante da memória. Por isso, lhe pergunto:
Aqui tá frio, e o seu tempo, como vai?

Estômago

Era dia de gnochi. E como fiéis aos custumeiros atos da família,
todo dia 29, aparecia embaixo dos pratos de cada filho, cada neto,cada um, uma cédula.
Era costume. Era família. Era rotina.
Sempre as mesmas piadas, nada engraçadas, e as mesmas risadas. Falsidade.
Rotina.
O tic-tac do relógio tornava aquele momento cada vez mais angustiante, desprezível.
Não à um em específico, mas à todos que ao redor da mesa encontravam-se.
O homem da casa, com um aspecto arrogante mas de fala singela, apressava a mulher.
Até mesmo ele, que cuidava de chamar a todos para o encontro,
queria que este logo se desse por findado.
Era a rotina atingindo até mesmo àqueles que teimavam em seguí-la.
Os filhos, adolescentes, queriam sair com os amigos, divertir-se.
Mas não. Estavam presos ali, naquele momento bucólico. Repugnante.
Até que alguém permitiu-se falar.
Já era chato demais ter que aguentar as tias falando da vizinhança.
As sogras das noras, as mães dos sobrinhos.
Pior era quando o calado falava do silêncio.
Quem fora o combatente ?
Uma menininha que encontrava-se jogada na cadeira, ao fundo.
Cabelos caídos sobre os olhos, mas que permitiam observar-se a tristeza nos mesmos.
Estava apática. Uma expressão que transpassava a irritação, o tédio.
Ela levantou-se, e caminhando lentamente, ia calando os mudos.
Ninguém ali falava, pois não havia o que dizer.
E ela, de repente, respirou mais ar do que podia.
E o fez para nutrir-se de coragem.
Não sabia o que diriam.
Mas não mais aguentava.
O ar, seco, tornou-se um inimigo.
Era como se ele recusasse a adentrar no corpo da menina.
Tonteava.
"Vamos Beth, diz logo alguma coisa! Vamos!" aconselhava à si mesma.
E ela o fez.
- Sei que não estão mais acostumado com barulho. Só o que ouviram durante esses anos, longos anos, foram os ruídos da porta que abre-se sem cautela. O vinil de Elvis que acabou por tornar-se a trilha sonora dessa monotonia. E nada mais. Pois bem, queria eu quebrar o silêncio.
- Com que propósito ? - questionou o pai da menina.
- De quebrar esse jejum.
- Mas que jejum minha filha ?! - se irritou o homem - Não vê essa travessa em cima da mesa?
- Não meu pai, não falo de estômago. Falo de sonhos. Há tempos não os tenho, pois há tempos não vivo.
E a menina sentou-se. E o silêncio voltou a reinar.
Mas com a certeza de que, aquela noite, tudo iria mudar.
Ela voltara a respirar.
Cada decisão, é como uma chave. E pelo visto, ela encontrou a certa.

domingo, 15 de março de 2009

Abre-se o jornal da vida real.

E aí? Vai um cafezinho?

Toda manhã ela aparecia na mesma padaria, sentava-se próxima ao balcão e pedia seu rotineiro café com pão.Abria o jornal matinal, e ia intercalando a leitura com os goles na bebida aquecida. Aquele jornal que vinha com as notícias diárias, a maioria delas problemas; relatos de vidas fragmentadas por motivos insanamente humanos; Eram gritantes os defeitos, mas ainda assim, ela vivia como se sua história fosse parar num filme hollywoodiano; Estava totalmente alheia ao que acontecia; Ria das tirinhas, se interessava pelas crônicas, pulava os esportes, sapeava pelas folhas do caderno de economia que, aliás, relatavam mais um acesso de crise nas ações. Quem se importa? Ela estava ali, saboreando um café forte feito o povo que doma as questões atuais. Um café envolvido por uma xícara de porcelana, frágil feito uma sociedade desigual, apagada feito a voz desse mesmo povo. Um café doce como as mentiras que contam hoje aqueles da politicagem e puro feito a mente das crianças que ainda acreditam no futuro da nação. Quem é ela? Uma dessas crianças. Por isso tudo é tão calmo, tão sereno. Ah sim, e o pão? Bem, esse é pra que a vida não fique tão indigesta; ele que torna tudo menos intragável; É pra segurar aqueles que tem estômago.