sexta-feira, 20 de março de 2009

Tá na hora.

Não, eu não vou falar de tempo. Dessa vez é apenas (mais) uma tentativa de expressar minha indignação, minha repulsa. Tá na hora. Hora essa que já passou por nós várias vezes e a massa não agiu. E digo a massa porque sabemos que iniciativas individuais não são dignas de serem notadas, ignorância. O tempo passa e vai levando as oportunidades de reflexão. De pararmos pra pensar no que fazer, e de fato, atuar. Esperamos pra ver na televisão, uma caixinha de cores e totalmente robôtizada e domadora, capaz de nos neocolonizar. De atingir nosso âmago, coisa que nem as ideologias mais artisticamente politizadas são capazes de fazer. Esperamos que outros pensem pra seguirmos a ''maré'' de maneira cega. Esperamos.
Enquanto isso não deixam de existir os problemas. Eles seguem aí, causando tumulto, desavenças, divergências e consequências devastadoras. Uma sociedade inteira fragmentada por falta de ações. Nos alienamos de tudo esperando que outros façam seu papel, aqueles que certa vez colocamos no trono governamental mas que nada fizeram por seus meros súditos. Abanamos seus rostos com impostos, os alimentamos com suor trabalhador, somos seus bobos da côrte. E eles reinam. Pelos cantos se reclama, se indaga, criam-se teorias, planos, mas revolucionar enfim, ah! isso não dá. Tenho que trabalhar, me falta tempo. Deixemos pros mais jovens, já fiz muito por esse mundo.
Mas também se espera que eles cresçam e se tornem capacitados.
Definitivamente o tempo vem sendo banalizado. Talvez pelo fato de se achar que uma geração é pouco pra fazer a diferença. Se pensarmos assim, quando será suficiente? Nunca começaremos a mudar, a gerar possibilidades, melhorias, certezas.
Vejo meu pai olhando pras novidades atuais (meio ambiente devastado, absurdos casos de pedofilia, presidentes negros - nem todas são novidades ruins, decerto). Ele se choca. Não o culpo por ainda viver na época da ditadura, ele não fora criado pra aceitar as mudanças, por menos radicais que fossem. O receio do novo ainda se impõe nessa sociedade. Mas eu, como membro de uma nova geração não. Tive a sorte de nascer numa (pseudo) democracia, e não vou desperdiçar a chance de transformar.
Mude com pensamentos, é uma questão interna. Depois com palavras, atingindo um pequeno raio de mentes a-lunas. E por fim atue no grande circo da vida. Cabe à nós, jovens ou velhos, fazer dela um sucesso grandioso. A hora chegou, vamos ser humanos.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Fantasia sem sentido.

Tem dias que a gente acorda meio mal. De olhar pro mundo através da janela e ver apenas uma faixa de destino embaçada e enquadrada naquele pedaço de vidro. De parar pra refletir (não no vidro, mas na mente) e tentar descobrir pra que veio. Crises de identidade e (des)crença que nos pegam de um jeito que não dá para não pensar. Hoje foi um dia desses, pelo menos pra mim. Sentei-me na cama e fiquei, por longos minutos, fitando aquele reflexo abobalhado no espelho. Era como se eu visse uma desconhecida. Aqueles traços me traziam uma remota lembrança de um passado não tão distante, não tão esquecido. Mas ainda assim eu não reconhecia aquela imagem. Não que a figura demonstrativa não gritasse que era eu, mas o que eu via naqueles olhos pseudo-meus não era o que eu imaginava passar, na realidade. Enfim, eu não sabia quem era minha real pessoa. Por tantas vezes a gente tenta enganar ao passar uma imagem fantasiosa. Tentamos sorrir quando choramos por dentro, quando nossas entranhas estão se rebelando na mais insana dor. Humanóides mentirosos, somos nós.
A chuva começou a cair, toquei uns acordes aleatórios no violão. Não sei tocar, isso é fato, mas esse não saber não é impecilho pras tentativas desastradas. Posso não saber quem sou, mas quem não sou, ah, como sei!
Não sou cantora, dançarina, escritora, cult, pop... Não que eu seja nada, mas ainda não descobri. A chuva ainda caia, e com ela os pensamentos atordoados iam se esvaindo. Chuva que vai, e cessa. Feito minha mente, curvilínea, sem padrões. De tempos em tempos, parece minha criatividade: escassa.
Feito fantasia que, no ápice do emanar, se dá por findada deixando apenas a curiosidade.
Fantasia que, como eu, não faz sentido.

Um conto a mais, gente a menos

Ao buscar imagens sobre guerras, mentalizava-me no lugar daquelas pessoas, daquela gente.
Não era uma boa sensação, pode acreditar. E só de pensar que minha avó ou a mãe dela, e tantas outras avós e bisavós, e mulheres, e crianças possam ter passado por isso quando seus homens e pais foram lutar, umas certas gotas escorrem por meu rosto.
Não era, de fato, uma boa sensação.
Eu duvidava de como o homem fora insano, insensato, louco.
Mas ao ver por seus olhos, ao vestir suas fardas, até compreendia.
Ou era ele, ou seus filhos e sua mulher, que ele dizia serem sua vida.
Concluí que a insanidade do homem era bondosa. Ele trocava sua vida única, por sua vida dividida. Sabia que ia morrer, mas deixava ao mundo outros olhos pra poderem ver.
Por isso até gosto de ser louca. E de ser gente. Até.

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Explosões. O céu brilhava feito purpurina. Não, não era baile de carnaval.
Não haviam serpentinas, confetes e sorrisos. Parecia que estes eram desviados pra qualquer lugar.
O caos reinava nos olhos dos nossos filhos, e nada podíamos fazer a não ser orar.
Mas numa situação daquelas, Deus se tornou lenda. Lagrímas que não secavam, corpos mutilados.
A dor de uma mãe que teve seu filho morto pelos homens fardados de morte. Crianças a lamentar por seu pai, seus irmãos.
Culpa da guerra.
Gente que mata gente deixa de ser gente. Gente que morre também. Vira pó. Vira dor. Vira adubo. Vira nada.
A luz que, ao mesmo tempo era próxima dos olhos, tornava-se tão distante quanto a paz.
Essa era a guerra. Aos olhos dos soberanos, uma promessa de vida nova.
Por Deus que ainda restava nos crentes, se a vida se acabava ali, como poderiam renová-la ?
E o tempo passava por nós. Calavam-se as vozes. E as esperanças idem.
Eclodia o choro dos bebês, desaninhados. Tocavam em mim partes do corpo de alheios. Ou quem sabe de meu homem.
Culpa da guerra.
Éramos cidadãos, e agora viramos fumaça. Éramos gente, e agora animais insanos.
Pareciamos canibais. Eles corriam com seus quilos de metais nas costas, com principios de sorrisos, como se gostassem de matar.
E de morrer. Elas percorriam o asfalto, ou talvez as paredes, ou a terra. Era tudo igual.
Culpa da guerra.
Milhões de falecidos. Inocentes ou não. Homens ou não. Todos embaixo do muro.
Ou pelo chão. A poeira tomou conta de tudo. Fora necessária uma multidão se perder pra vermos que éramos todos iguais.
Cinzas.
Era esse o objetivo ? Calar o homem pra saber que ele é como eu, e você ?
Não, porque guerra não tem motivo, exceto o erro da morte.
Explodiam os corpos e os sonhos. O céu brilhava feito purpurina. Feito lágrimas.
Culpa do homem.

terça-feira, 17 de março de 2009

Fatos mundanos que nos vitimizam.

Ela passeava pela casa. Sim, passeava. Era um ambiente desconhecido,
e daqui à um tempo, não existiria mais em sua vida.
Era mais ou menos dessa maneira que a garota vivia. De canto em canto, sem uma rotina, um ciclo.
Desde menina era imprevisível, e até gostava disso. Era adepta às mudanças, surpresas.
Até que entrou para a faculdade de química.
Achava que era uma profissão perfeita, já que buscava descobertas.
Conheceu novas pessoas, descobriu fórmulas, não as usava.
Namorou alunos, e até mesmo um professor.
Era inteiramente misteriosa. E avoada.
Deixou os elétrons e virou-se para os fios encontráveis na mecânica.
Decidiu contribuir para um mundo mais fácil de se controlar.
Mas parou pra pensar nos animais. Mudou-se para a biotecnologia. Perfeito! Ou não.
Direito, engenharia, história, administração, fisioterapia, jornalismo, engenharia de novo,
projetos inacabados.Sossego? Imagina! E é assim até hoje.
Mas agora ela não tem o mesmo gás dos outros tempos.
Não tem filhos. Não casou-se. Isso era muito comum.
Não tem carro, apenas uma charrete. Não tem cavalos para puxá-la.
Não tem casa, só uma barraca. Mora num pico de montanha. Numa barraca, pois é.
Não toma remédios. É doente do corpo. É doente da mente. É demente.
Isso tudo para não cair na rotina.
Ela renova sua alma. Mas ainda envelhece a sua pele.
Seu jeito criativo de reagir ao tempo é, digamos, interessante.
Facinante. Mas ela se foi. Não há parentes para velá-la.
Não há ninguém pra prosseguir com as novidades.
Não há.
Os jovens que ouviam essa história que saltava da boca da professora tomaram-na como exemplo.
Agradecem pelo cotidiano.
Os dias comuns não lhes fazem mal, nem os matam por viver de um cardápio limitado de sonhos.
Alegram-se de estarem respirando, e cuidando de seus corpos joviais.
Porém eles não sabem que sua mentalidade anda sofrendo com a ação do simples e do provável.
Mas os deixemos viver de um mundo previsível.
Eles ainda vão buscar uma charrete com cavalos imaginados que hão de guiá-los
para o cantinho da velhinha.
Aonde deixarão de ser robôs, e virarão gente.
Felizmente.

Restrito

Em sua viagem, ao Destrito Federal, foram tragados milhões de cigarretes.
Devido ao vício, era chamado de smoke machine. Mas ele nem ligava.
E perdia-se naquela fumaça. Literalmente.
Ele viajara quilômetros para apenas corresponder à uma proposta de emprego.
Apesar de seu defeito mais notável, era de grande respeito. Era um homem por inteiro.
Mas isso não compensava as horas à fio que ele mantinha aquele pedaço de papel maldito dentre os dedos.
Em frente ao computador, ele nem via os maços se esvaziarem. E teimava em dizer que só fora um.
Os filhos, a mulher, cansados do vício que os atingia também, decidiram tomar algumas atitudes.
Foi quando aniquilaram a nicotina da vida deles. Ou ao menos tentaram fazê-lo.
Ficara terminantemente proibida a entrada de qualquer pacotinho contendo um cigarro sequer.
Sem exceções. Podia ser o mais fraco existente. Desde um Free até um Hollywood.
Claro que não foi fácil, mas a cada vez que ele comprava, tantas outras eram queimados, cortados, sumidos.
Foi então que decidiu aceitar o emprego que citei no início.
Ele sentia-se enjaulado sem seu companheiro.
Mal ele sabia que este estava matando-o.
Chegando à Brasília, viu as luzes e logo lembrou de comprar seu maço.
Viu lanchonetes. Mais um pacote.
Viu passarinhos. Mais um.
Pessoas, praças, monumentos, o invísivel. Tantos mais.
Sentia falta da família, era óbvio.
Mas sabia que se voltasse, estaria restrito ao uso viciante daquele veneno.
E por lá ficou.
Perdeu o primeiro carro que o filho comprou.
A viagem à Disney da filha, quando esta fez 15 anos.
Os primeiros jogos de futebol do neto.
A família. As lembranças. O próprio ar.
Coisa do vício.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Todo o tempo do tempo.

Um minuto pra outra hora, outra hora, coberta de 6O outros minutos, que cada um contém seus outros 6O segundos, o quê resume em tantos outros 36OO segundos por hora. Não sou matemática, mas isso é tão básico quanto saber seu nome. Por isso que eu não tenho um fixo.
Posso ser Maria Elisa, Marie, Mari, Ma, M, psiu!, você, ei, nada. Que seja, isso não vai mudar a minha história. Mas voltemos para o tempo.
A cada momento, acontecem mortes, nascimentos, discussões. A cada instante, as pessoas falam, respiram, soluçam, choram, riem. Vivem.
Vez em quando eu paro pra pensar o quê Alguém estaria fazendo. E se esse Alguém precisa de mais outro Alguém. Se esses Alguém's precisam de
mim. Ou não. E talvez eu nunca vá saber, o tempo passa rápido, as coisas mudam ligeiramente, e se nesse instante eles vivem, quem sabe no outro
o quê pode acontecer? Mas voltando ao tempo, paremos pra pensar também o quê poderíamos estar fazendo nesse momento, se isso mudaria o
próximo, ou quem sabe só seja desperdício. Ah, isso é outra coisa que me vem a mente, às vezes. Disperdício de tempo, isso existe?
Tempo taí, é pra ser usado, ninguém pode chegar e falar que roubou seu tempo e só vai devolver depois de gastá-lo e a bateria pifar.
Tempo não é movido à bateria. Tempo é tempo, sei lá de quê é feito. Quero dizer, eu sei que tempo é marcado em dias, horas, e coisa e tal, mas
isso não é a sua matéria. Aliás, tempo tem matéria? É, pelo visto eu não tive tempo suficiente pra saber de quê ele é feito. Mas então me pergunto:
Se tempo não tem matéria, não podemos vê-lo, nem apalpá-lo, como pode ele nos tocar de tal maneira? Vivemos num mundo ande tudo merece mais
tempo, que o dia é pequeno. (H)Ora essa, quer dizer que devemos dar alguns hormônios pro dia? O tempo passa, não pára, nem espera ninguém.
As mulheres reclamam que estão velhas, antigas, passadas. Coisa do tempo, ele que diz. Os homens protestam que não viveram o suficiente pra ter
em mãos todas as mulheres do mundo. Parece até que existe uma ampulheta que apita quando a gente envelhece. E eu não reclamo, não protesto nem me revolto. Quando me perguntam quantos anos tenho, não sei responder. Já tive 14, mas o quê tenho pela frente, só Deus e o tempo sabem.
36OO segundos, posso usá-los como bem entender, e pra você po
de parecer só mais uma hora perdida, mais rugas, menos mulheres, mas para mim foram mais risadas, lágrimas, palavras e suspiros. Pra mim esses segundos foram de fato, momentos. Instantes a serem marcados, lembrados, e quem sabe, com o tempo, esquecidos por alto mas ainda existentes na estante da memória. Por isso, lhe pergunto:
Aqui tá frio, e o seu tempo, como vai?

Estômago

Era dia de gnochi. E como fiéis aos custumeiros atos da família,
todo dia 29, aparecia embaixo dos pratos de cada filho, cada neto,cada um, uma cédula.
Era costume. Era família. Era rotina.
Sempre as mesmas piadas, nada engraçadas, e as mesmas risadas. Falsidade.
Rotina.
O tic-tac do relógio tornava aquele momento cada vez mais angustiante, desprezível.
Não à um em específico, mas à todos que ao redor da mesa encontravam-se.
O homem da casa, com um aspecto arrogante mas de fala singela, apressava a mulher.
Até mesmo ele, que cuidava de chamar a todos para o encontro,
queria que este logo se desse por findado.
Era a rotina atingindo até mesmo àqueles que teimavam em seguí-la.
Os filhos, adolescentes, queriam sair com os amigos, divertir-se.
Mas não. Estavam presos ali, naquele momento bucólico. Repugnante.
Até que alguém permitiu-se falar.
Já era chato demais ter que aguentar as tias falando da vizinhança.
As sogras das noras, as mães dos sobrinhos.
Pior era quando o calado falava do silêncio.
Quem fora o combatente ?
Uma menininha que encontrava-se jogada na cadeira, ao fundo.
Cabelos caídos sobre os olhos, mas que permitiam observar-se a tristeza nos mesmos.
Estava apática. Uma expressão que transpassava a irritação, o tédio.
Ela levantou-se, e caminhando lentamente, ia calando os mudos.
Ninguém ali falava, pois não havia o que dizer.
E ela, de repente, respirou mais ar do que podia.
E o fez para nutrir-se de coragem.
Não sabia o que diriam.
Mas não mais aguentava.
O ar, seco, tornou-se um inimigo.
Era como se ele recusasse a adentrar no corpo da menina.
Tonteava.
"Vamos Beth, diz logo alguma coisa! Vamos!" aconselhava à si mesma.
E ela o fez.
- Sei que não estão mais acostumado com barulho. Só o que ouviram durante esses anos, longos anos, foram os ruídos da porta que abre-se sem cautela. O vinil de Elvis que acabou por tornar-se a trilha sonora dessa monotonia. E nada mais. Pois bem, queria eu quebrar o silêncio.
- Com que propósito ? - questionou o pai da menina.
- De quebrar esse jejum.
- Mas que jejum minha filha ?! - se irritou o homem - Não vê essa travessa em cima da mesa?
- Não meu pai, não falo de estômago. Falo de sonhos. Há tempos não os tenho, pois há tempos não vivo.
E a menina sentou-se. E o silêncio voltou a reinar.
Mas com a certeza de que, aquela noite, tudo iria mudar.
Ela voltara a respirar.
Cada decisão, é como uma chave. E pelo visto, ela encontrou a certa.

domingo, 15 de março de 2009

Abre-se o jornal da vida real.

E aí? Vai um cafezinho?

Toda manhã ela aparecia na mesma padaria, sentava-se próxima ao balcão e pedia seu rotineiro café com pão.Abria o jornal matinal, e ia intercalando a leitura com os goles na bebida aquecida. Aquele jornal que vinha com as notícias diárias, a maioria delas problemas; relatos de vidas fragmentadas por motivos insanamente humanos; Eram gritantes os defeitos, mas ainda assim, ela vivia como se sua história fosse parar num filme hollywoodiano; Estava totalmente alheia ao que acontecia; Ria das tirinhas, se interessava pelas crônicas, pulava os esportes, sapeava pelas folhas do caderno de economia que, aliás, relatavam mais um acesso de crise nas ações. Quem se importa? Ela estava ali, saboreando um café forte feito o povo que doma as questões atuais. Um café envolvido por uma xícara de porcelana, frágil feito uma sociedade desigual, apagada feito a voz desse mesmo povo. Um café doce como as mentiras que contam hoje aqueles da politicagem e puro feito a mente das crianças que ainda acreditam no futuro da nação. Quem é ela? Uma dessas crianças. Por isso tudo é tão calmo, tão sereno. Ah sim, e o pão? Bem, esse é pra que a vida não fique tão indigesta; ele que torna tudo menos intragável; É pra segurar aqueles que tem estômago.